sexta-feira, maio 30, 2008

Guarda-Chuva

Chuvinha fina caindo. Levar guarda-chuva equivale mudar o mundo. Veja como no vídeo abaixo.




Vídeo de comemoração de 15 anos da TV argentina TN

Se sabes que vai chover, levas guarda-chuva;
Se levas guarda-chuva, não te molhas;
Se não te molhas, não ficas resfriado;
Se não ficas resfriado, não permaneces em casa;
Se não permaneces em casa, sais para rua;
Se sais para rua, conheces gente;
Se conheces gente, entendes melhor as pessoas;
Se entendes melhor as pessoas, és uma pessoa melhor;
Se és uma pessoa melhor, melhoras a vida de outras pessoas;
Se melhoras a vida de outras pessoas, fazes um mundo melhor;
Se fazes um mundo melhor, não há guerras;
Se não há guerras, há paz;
Se há paz, vives tranqüilo;
Se vives tranqüilo, sois feliz;
Se sois feliz, podes fazer outros felizes;
E se fazes outros felizes, somos todos felizes...
...se levas guarda-chuva!
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quinta-feira, maio 29, 2008


Uma viagem sem volta – partida
É até o topo
Até logo
Árida


Um confronto sem-par – partida
É até um jogo

Até tola

Ácida


Sem tê-la por inteiro – partida
É até o todo

Até mais

Ávida


Sem completar um par – partida
É até longa

Até breve

A vida
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quarta-feira, maio 28, 2008

Idéia Fixa

Michelangelo (1475–1564), famoso por seus afrescos no teto da Capela Sistina no Vaticano, é talvez o maior artista da história humana.

Veja Davi, uma estátua em mármore de mais de 5 metros que levou 3 anos (1501–1504) para ser construída. Está na Accademia di Belle Arte, em Florença. Fugiu do óbvio não retratando a história mais conhecida do herói bíblico em seu confronto com Golias.



Outra obra fantástica do gênio é Moisés (1515). Segundo se conta, ao terminá-la, admirou tanto sua beleza que num momento de alucinação bateu na estátua e perguntou Perché non parli? (Por que não falas?).


São obras extraordinárias, mas tenho outra como minha preferida.
O afresco representando A Sibila Líbica .



Toma um livro mas não o está lendo. Olha em outra direção. Para onde? Há um personagem ao seu lado. Um querubim. Para ele onde aponta? Há dois pares de meninos acima, nas colunas. Um de cada lado. O que examinam? Qual o ponto mais iluminado do quadro?

Como apontaram o médico e químico brasileiros (
Gilson Barreto e Marcelo de Oliveira), o afresco revela um pensamento obstinado de Michelangelo ao pintar: o ombro!

Mesmo virando o quadro de cabeça para baixo, há um detalhe da veste da sibila que representa a anatomia do ombro.



Ao ver A Sibila Líbica me sinto aliviado por muitas vezes ter idéias fixas. Idéias que saltam, abrem os braços em X. Como Michelangelo pode ter pensado tanto em ombro ao pintar? Ombro, ombro, ombro. Obstinação. Todas as coisas remetem a uma. Pertinácia é arte? Ser pervicaz é genial? A birra é iluminadora?
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terça-feira, maio 27, 2008



Mezzo mozzarella, mezzo peperoni

Fiz três testes que rondam a internet. Eles detectam o que chamam bug no cérebro (se ainda não os fez, tente agora no final desse post). Comportei-me exatamente como o esperado. Errei as somas que previam que eu errasse, deixei escapar o que pareceu óbvio num julgamento a posteriori e, após ser distraído, adivinhem qual foi minha resposta quando sugeriram que eu falasse sem pensar uma ferramenta e uma cor? Sim, isso mesmo, martelo e vermelho.

Tudo isso me deixou incomodado. Procurei ontem um teste de QI na esperança de encontrar alguma excelência que me tirasse da base da pirâmide. A pontuação foi 129. Sem novidades. Não há nada que me qualifica como único? Deverei aceitar a vida circunscrita na parte mais grossa das estatísticas? O incômodo não é novo.

Fui hospitalizado duas vezes na minha vida. Ainda me lembro de como meu me pai pedia para dizer o meu diagnóstico aos que vinham me visitar no hospital. Glândula inflamada. Imaginei naquela época que o deleite das visitas ao ouvir isso, se devia ao fato de que eu era o único ser humano no universo com glândula e inflamação. Achei prosaico demais descobrir que a razão da surpresa era apenas pela pronúncia do gl e do fl das palavras por uma criança.

Na adolescência detectei uma anomalia que só tive coragem de falar aos do meu círculo familiar. Coisa minha. Eles me levaram ao médico e voilá: o problema tinha nome (criptorquidia) e podia ser resolvido em cirurgia de uma hora. Decepcionante.

Não acredito nos signos do zodíaco, mas basta consultar o horóscopo para verificar que mesmo os charlatões acertam tudo sobre mim. Nem me preocupo em ver meu próprio signo. Qualquer um dos doze perfis se casam com o meu. Não há nada que me faça exótico, excêntrico, excepcional?
“Sou normal, como pizza”. A frase não é minha. É da Sandy, a filha do sertanejo. Exceptis exipiendis, sou igual a ela. A mozzarela é a medida da nossa normalidade.
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Teste 1


Faça DE CABEÇA a seguinte conta fácil. Você tem 1000. Acrescenta 40. Acrescenta mais 1000. Acrescenta mais 30; novamente acrescenta 1000. Acrescenta 20. Acrescenta 1000 e depois mais 10.

Qual o total?
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5000?

Não. A resposta correta é 4100!

Teste 2


Quantos F tem no texto abaixo?

FINISHED FILES ARE THE RE-
SULT OF YEARS OF SCIENTIF- 
IC STUDY COMBINED WITH
THE EXPERIENCE OF YEARS.

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3? 4? 5?
A resposta correta é 6.





Teste 3

Pense rápido em uma ferramenta e uma cor.
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sábado, maio 24, 2008

Do Cesto (#4)



Projetos que foram parar no cesto de lixo por razões óbvias.
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sexta-feira, maio 23, 2008

Infeliz

Trânsito de São Carlos. A garota está indo de moto para o trabalho quando é acintosamente fechada por um Zé-mané de carro. Freada brusca, rubor, taquicardia, uma respiração funda e o descarrego: INFELIZ! Como é? Infeliz? Não havia nenhum outro insulto? Um vitupério mais ofensivo?

Não recomendaria nenhuma vulgaridade. Falar palavrão, na minha opinião, sempre é um tiro no pé. É vexatório. O vilipendiador pode sair mais ferido que o vilipendiado. Para o caso específico ­ não caberia um discurso e nem mesmo frase longa. Ainda “begalafumenga”, “anencefálico”, “acatapléctico” não funcionam de dentro do capacete. Há que se dar apenas um tiro antes que um se afaste demais.

Um ultraje típico da língua escrita é altamente desaconselhável. Não dá para atacar com sicofanta, betráquio, tugue [Do hindu thag – indivíduo violento, sanguinário (seita cujos membros praticavam sacrifício humano)], onagro, graveolento, truão – já que a graça desses é fazer que o ofendido, além de receber a ofensa, só descubra do que se trata após consultar o dicionário. “Tartufo” o levaria até Molière. “Casmurro” a Machado. “Bucéfalo” a Alexandre Magno.

“Bicho-papão” ia parecer infantil. “Desminlingüido”, idem. “Bastardo” é para tradução de filme americano. Desparafusado, tantã, desmiolado, abilolado e maluco são obsoletos. “Barbeiro” é muito óbvio. “Tunoso” é pessoa que vive vadiando. Vem do francês, tune. Mas se o carro é “tunado” pode parecer elogio vindo do inglês.

Animais de carga é fonte de insultos, mas sua força se perdeu. Asno, burro, mula, jumento, jerico? Não! “Cavalo” e “acavalado” podem ser elogio. Abnóxios. “Besta” só funciona com adicionais geométricos: quadrada, redonda.

Comportamento sexual visto como censurável fornece toda espécie de obcenidades. Bronheiro, onanista é o homem que não consegue parceira sexual e se entrega à masturbação (vem da figura bíblica Onã). Não se aplicaria aqui. “Desmunhecado”, “brioqueiro”, “abonecado” poderiam dar processo se homossexual de fato for.

Gritar trombadinha no trânsito é perigoso. Pode ferir o brio de algum flanelinha ou malabarista que esteja por perto. Se estivesse clareza que o carroceiro está fora de forma, xibimba, adiposo, pantófago (Gr. Que come tudo), pançudo, ancudo ou pandorga seriam humilhantes. Se o contrário, desnalgado (que tem traseiro pegueno). Mas como ter certeza, se o amundiçado está dentro do carro?

Se ao menos fosse um político, as opções se multiplicariam. Basta pensar numa sílaba. Vigarista, vil, vivaldino, vilanaz, vira-casaca, vira-lata. Daria para conjugar adjetivos como se verbos fossem. Politiquete, politiqueiro, politiquinho, politicóide, politicalho. Pensando bem, acho que ela foi feliz em chamá-lo de infeliz. Melhor deixar os melhores xingamentos a quem mais merece. Bip, bip!
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terça-feira, maio 20, 2008

Mudança

Por que meu esforço renitente...


Se somente essa Semente

Que plantada fez-se muda

Com silêncio eloqüente,

Num instante tudo muda?


Que ansiedade há que um côvado acrescente?


Tão-somente essa Semente
Que, nascida, se faz muda,
É esperança paciente

Que num instante tudo muda.

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segunda-feira, maio 19, 2008


Ovo de Páscoa Nefasto

Todo mundo conhece algum Easter Egg (ovo de páscoa). São mensagens, imagens ou programas ocultos dentro de alguma mídia. Há milhares deles. Alguns são clássicos e outros nem se sabe se foram parar ali intencional ou randomicamente.

Veja o exemplo no Excel 2000

[1] Abra uma planilha em branco e pressione F5

[2] Digite x2000:L2000 e Enter

[3] Digite a tecla Tab uma vez, de modo que vá a coluna M

[4] Mantenha as teclas Ctrl e Shift pressionadas e clique no ícone

Pronto. Aí está a lista de nomes das pessoas envolvidas no projeto Excel. Há outros ovos de páscoa no Excel, como simulador de vôo nas versões 95 e 97.

Word

[1] Abra um novo documento e digite =rand(200,99)

[2] Enter

[3] Tente variações de (1,1) a (200,99) e veja o que acontece

Powerpoint

[1] Vá em Ajuda e escolha “Sobre o Microsoft PowerPoint”

[2] Mantenha as teclas Shift, Ctrl e Alt pressionadas

[3] Clique duas vezes sobre o logotipo na esquerda e veja as pessoas que trabalharam no projeto

Picasa

[1] Abra e digite Y enquanto mantém pressionadas Ctrl e Shift

Há coisas ocultas em filmes – Clube da Luta tem uma mensagem estranha no começo, Apocalypto tem uma imagem do Mel Gibson em apenas um frame. No filme dos Simpsons, quando Bart aparece com um sutiã na cabeça saindo do compartimento de bagagem do trem ele fala "sou o mascote de uma corporação maligna". O sutiã preto na cabeça o faz parecidíssimo com o Mickey Mouse, o mascote da Disney. Mas quero mostrar o Easter Egg tupiniquim encontrado por mim.

Gil

Na música Pessoa Nefasta (clique para ouvir) de Gilberto Gil – CD Raça Humana – depois de alguns scats, frases vocais sem sentido, quando chega no ponto 4:37, o que se ouve é “Não posso 'fumar um' sem 'dar um pau' em cocaína” ou estou enganado?

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sábado, maio 17, 2008

Do Cesto (#3)


Projetos que foram parar no cesto de lixo por razões óbvias.
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sexta-feira, maio 16, 2008

Matemática

Fico incomodado com aqueles atendentes de caixa que fazem com a calculadora as contas mais simples. O gasto foi R$ 3,20. Pago com uma nota de cinco reais. Lá vão eles calcular o troco na maquininha. Se a calculadora paraguaia tem aqueles
bips para cada dígito, meu coração acelera perigosamente.

Não sou lá muito bom em matemática, mas faço, por exemplo, uma multiplicação até de dois números entre 11 e 19 - de cabeça. Em apenas cinco minutos você também aprende.

Tome 13x18 como exemplo.

[1] Coloque mentalmente o número maior em cima;

[2] Pense num triângulo que cobre os dois números do nosso exemplo dessa maneira:

[3] Some esses números dentro do triângulo e adicione um zero ao resultado (ou seja, multiplique por 10);

[4] Multiplique o número de baixo do triângulo, 3, pelo que está acima dele, 8;

[5] O resultado final é a soma do números encontrados nos passos [3] e [4].

Muito obrigado. Próximo!

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quinta-feira, maio 15, 2008

Lobato Mau

Bem que eu desconfiava. Fui tocar em Vitória da Conquista o Hino Nacional para abertura de uma mostra cultural de uma escola de primeiro grau dedicada à casta mais privilegiada da cidade – trompetistas sempre se metem nessas enrascadas. Fiz o trabalho e já estava de saída quando o mestre de cerimônia anunciou uma peça na qual se ia encenar Negrinha de Monteiro Lobato. Desisti imediatamente da saída precoce. Desejei saber a visão que aqueles adolescentes tinham do racismo.

Não estranhei que não havia negro para representar Negrinha – “magra e atrofiada”. Não me assustei com o tratamento dispensado a “pobre órfã de sete anos. Preta? Não; fusca, mulatinha escura, de cabelos ruços e olhos assustados”. A história vai daquele jeito “Nascera na senzala, de mãe escrava, e seus primeiros anos vivera-os pelos cantos escuros da cozinha, sobre velha esteira e trapos imundos”. Os adolescentes atores aprenderam uma série apelidos com que a mimoseavam – Pestinha, diabo, coruja, barata descascada, bruxa, pata-choca, pinto gorado, mosca-morta, sujeira, bisca, trapo, cachorrinha, coisa-ruim, lixo. Mas a maior diversão mesmo era o alívio que “cocres bem fincados” gerava na senhora dona Inácia. Correção? Com ovo quente na boca –. Para encurtar a história.

(e se desejar leia na íntegra minha transcrição) http://abdalan.vilabol.uol.com.br/LobatoMau/Negrinha.pdf


Morreu “com maior beleza” a Negrinha, de frio e tristeza, sonhando com muitas bonecas louras, de olhos azuis com mãozinhas de louça. Sendo enterrada a sua “carnezinha de terceira” na vala comum, deixou a saudade de “como (ela) era boa para um cocre”.


Fiquei estarrecido, sim, com a conclusão dos atores mirins antes dos aplausos dos pais e professores orgulhosos: “Mesmo uma criança negra tem os mesmos desejos que todos têm – ser amada e poder brincar de boneca!”. Meu Deus, crianças, vocês juram que chegaram sozinhas a essa conclusão? Ah, sim! Claro que não. Foram ajudadas por Monteiro Lobato, esse racista asqueroso que teima em permanecer como o representante maior da literatura infantil brasileira.


O racismo do Lobato mau não está apenas na boca de Emíla, “alter ego” do autor, chamando a Tia Nastácia, a negra confinada na cozinha, de preta e beiçuda (Histórias de tia Nastácia. Ed. Brasiliense: São Paulo.
6a. ed. 1957 p.30, 132). Não está apenas na distância que se coloca Tio Barnabé – nos confins do sítio –, nem no fato de chamá-lo mono, macaco.

Em seu livro de 1926, O Choque das Raças publicado em uma reedição em 1946 sob o título de O Presidente Negro, ele revela mais claramente seu clube. O livro é dedicado a Arthur Neiva, médico sanitarista que defendia a eugenia ­– teoria racista criada pelo médico e matemático inglês que defendia a pureza das raças, Francis Galton. Para o dirigente da Sociedade Eugênica de São Paulo, o médico carioca Renato Kehl, Lobato escreveu "tu és o pai da eugenia no Brasil e a ti devia eu dedicar meu Choque [Choque das Raças], grito de guerra pró-eugenia. Vejo que errei não te pondo lá no frontispício, mas perdoai a este estropiado amigo. Precisamos lançar, vulgarizar estas idéias. A humanidade precisa de uma coisa só: poda. É como a vinha". No livro, por boca de um dos personagens: "Estragou as duas raças, fundindo-as. O negro perdeu as suas admiráveis qualidades físicas de selvagem e o branco sofreu a inevitável piora de caráter, conseqüente a todos os cruzamentos entre raças díspares".

O livro parece premonitório. Por meio do "porviroscópio", um dos personagens enxerga uma eleição americana disputada entre um negro, uma mulher e um branco. O negro ganha. Qualquer semelhança com Hillary Clinton, Barack Obama e John Mc-Cain é mera coincidência. O fato ocorre em 2228!


O livro foi lançado no EUA. Fracassou. Lobato certa vez falou “Errei vindo cá (EUA) tão verde. Devia ter vindo no tempo em que eles linchavam os negros”. Aqui no Brasil, pelo visto, não houve fracasso do seu projeto de vulgarização das idéias racistas entre as crianças.
Entre outras mil, és tu, Brasil, ó pátria amada!
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quarta-feira, maio 14, 2008

Não Verás País Nenhum



Li a coluna de Clóvis Rossi na Folha de São Paulo ontem (13/05/2008). Trata de uma hipótese que, segundo ele, “passa pela cabeça faz tempo”. Os engarrafamentos em São Paulo vão chegar a um ponto que, uma vez dentro deles, não se sai nunca mais. A arquiteta Regina Maria Prosperi Meyer na Revista da Folha de domingo, chama o tal congestionamento final de ‘tudo-parado-para-sempre’.

Não foi surpresa para mim. Tenho lido os oráculos paulistas. Quem mais precisamente falou sobre isso foi Ignácio de Loyola Brandão. Rossi chamou o evento funesto de The Big One, uma alusão ao grande terremoto que os americanos aguardam devido a falha geológica na Califórnia. Loyola não precisou de empréstimos. Ele o chamou de O Notável Congestionamento. Está tudo lá no seu livro publicado na década de 80, Não Verás País Nenhum. Por mim canonizaria Loyola. Ele é o nosso Nostradamus.

Nos lembraremos das ruas coalhadas de carros buzinando e acelerando. São mais de 3,5 milhões hoje em São Paulo. A gasolina, o álcool, o diesel acabam e os donos ficam ali parados por dias com os rostos patéticos e expressões perplexas. Os mais céticos não acreditarão ao ver o noticiário e vão sair de casa mesmo assim. Não vai dar para tirar os carros. Fecham as ruas.
Gente pedindo para usar o banheiro da casa em frente ao ponto onde seu carro parou. Muitos ficam chorando sobre o capô, como que sobre o caixão de um parente. Os vendedores alvoroçados vendendo balas, chicletes, Valium e Rivotril. Muitos não arredam o pé por dias! Suponho que isso se dê entre a Segunda e a Quarta. Vai fazer um calor medonho – pesquisas mostram que da década de 40 para cá aumentou 2 graus Celsius em São Paulo. O calor que o número de carros emite é 1/10 do calor que se recebe do sol – vai chover no final das tarde desses três dias. Mormaço neles.

Visitaremos São Paulo para ver, serpeando pelas ruas fantasmagóricas, aquela Anaconda-de-carros defunta. Será o novo museu jurássico. Já dá para sentir o cheiro acre de metal enferrujado. Sem-teto hospedado em Kombi e ônibus. Piqueniques entre Corcéis e Eco Sports.

O recorde hoje em São Paulo é 266 quilômetros. Na minha décima primeira edição de Não Verás País Nenhum (1985), na página 118, ele fala em congestionamento de 200 quilômetros. Em uma outra que fica perto da cabeceira da minha cama, vigésima quarta edição (2001), na página 125 lemos “Tem 500 quilômetros de carros”. Que é isso? O congestionamento está aumentando também no livro!

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terça-feira, maio 13, 2008

Do Cesto (#2)


Projetos que foram parar no cesto de lixo por razões óbvias.
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segunda-feira, maio 12, 2008



A quem interessar possa:

Pronto. Está decidido. Não uso mais o coração. Digo, não o uso mais para tarefas diversas daquela a que foi designado originalmente: 100.000 batidas diárias ininterruptas. Não basta? Estabelecer o músculo oco também como sede das emoções é exagero. Eu deixaria o trabalho para qualquer outro órgão.


Uma opção é o fígado. Não estou certo se é a melhor troca. Essa víscera já recebe visitas de Raiva e Tristeza regularmente. Já experimentaram ódio figadal? Melancolia é outra visitante do fígado. Melancolia é a junção das palavras gregas melanós, negro, (lembra melanina, certo?) e kholé, bile. Cólera (ira, raiva, fúria) também tem sua raiz no grego kholé, bile, através do latim cholera. Dadas outras tantas funções que o fígado acumula, podemos ser brandos com esse órgão. Quase disse que deveríamos ser misericordiosos, mas lá no meio dessa palavra tem o cordi, uma alusão ao coração. Vício (vis, víceras).
Concordamos... ops! Anuímos à idéia de deixar o fígado de fora. Que outro candidato temos? Os intestinos! Basta recordar... Droga, novamente! Recordar tem esse cor aí no meio, dando a tarefa das lembranças ao coração. Sem acordo, concórdia ou discórdia. Não quero mais nada ‘de cor’. O que quero dizer é que é possível nos lembrar de sentimentos ligados aos intestinos. O Apóstolo Paulo mencionou entranháveis afetos (Fp. 2:1-2). Isso mesmo. Amor vindo diretamente das tripas, dos intestinos, das entranhas! Há traduções que colocam coração onde na verdade é intestino. Não estou de acordo. Ei! Acordo. Essa palavra tem um cor no meio significando coração. Parei.
Na versão King James, sobre Filemom: “the bowels of the saints are refreshed by thee” (v. 7). Bowels são as tripas. Lembre-se que estar com vontade de fazer o ‘número 2’ em inglês é ‘one has a BM’, ‘bowel movement’. Que tal um 'eu te amo de todos os meus intestinos'? Há que se ter coragem? Não, pois coragem tem o cor se referindo ao coração. Basta ter tripas.

Cordialmente, 

Abdalan
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sexta-feira, maio 09, 2008




Mistifório
Gosto de palavras estranhas. Acho que vem da minha infância quando lia bula de remédio antes de ingeri-los. Como as letras são miúdas e as palavras longas, isso somado ao agravante de as ler sempre em estado febril, deverei ter cozido alguns neurônios. Mas esse prazer somava duas paixões: leitura e hipocondria.

Quantas vezes eu deixei a gaveta na maior confusão? Meu desejo era ouvir de alguém um ‘que mixórdia!’. Nunca tive essa desejada palavra. Vinha um simples ‘que bagunça’. Ficaria contente com 'balbúrdia', que também termina com rdia. O comum ‘arrume essa baderna’ sempre foi mais doloroso que croque no cocuruto. Misericórdia!
Minha presença nas aulas nos curso de física na UFSCar sempre foi aquela choldraboldra toda. Discordava, apontava as trapalhadas dos professores, incitava a vozearia, me envolvia em algazarras, mas nunca me ofereceram a indulgência de um ‘vamos parar com o mistifório?’ ou ‘que barafunda é essa?’.
Para escrever aqui me envolvo em um brainstorm doloroso. Desejo evitar a coerência, assunto recorrente que faça o blog merecer um rótulo. Não é fácil ser caótico. Misturo as idéias, faço uma baderna na minha mente e digito sem pensar ou revisar. Não quero apenas uma miscelânea de pensamentos, mas uma maçarocada mais indigesta. Seria a glória ouvir um ‘apreciei a mistela!’. Não vale mais, já falei. De alguém que considerasse os textos uma salada, queria ouvir ‘meu Deus, que salsada!’. Quem sabe um ‘que salgalhada é essa?’? Muito melhor, não? Agora, se um dos meus três leitores quer me ofender profundamente, apenas diga ‘amei esse blog’.
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quinta-feira, maio 08, 2008

Coca Cola

Coca Cola? Comecei cedo. A Coca Cola também começou cedo. A primeira foi vendida em 8 de Maio de 1886 - 122 anos hoje - numa farmácia em Atlanta, Georgia.

Se lê no cartaz
:

"Quando é cedo demais? Nunca. Testes laboratoriais nos últimos anos provaram que bebês que começaram tomar coca em seu tenro período de formação terão maiores chances de lograr aceitação e adaptação nos estranhos períodos de pré-adolescência e alolescência. Portanto faça a você mesmo um favor. Faça a seus filhos um favor. Inicie-os agora em um estrito regime de sodas e outra bebidas açucaradas e gaseificadas para um futuro de felicidade garantida."
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quarta-feira, maio 07, 2008

Miles Como Trompetista

Não parece novidade considerar, exceto para quem não os ouviu, que Miles Davis (1926-1991) NÃO teve a estonteante proficiência instrumental de trompetistas como Dizzy, Clifford ou Maynard.
Em relação a esses citados, por exemplo:

[1] Ele não toca tão rápido, [2] Ele não tem a mesma extensão e [3] Ele não toca tão claro.

Além disso, muitas vezes ele "escroca" as notas ou erra o alvo da nota desejada; Não é raro ouvir ele se aventurar em passagens que são mais rápidas que suas habilidades permitiam executar.

Ouça novamente Miles in Europe, Miles in Berlin, Miles in Tokyo e Four and More

Isso não ofusca, evidentemente, os pontos positivos de Miles como trompetista

[1] Um solista melódico.

[2] Produz efeito máximo nas suas escolhas rítmicas e na dramática construção de figuras melódicas. Excelente dosagem de silêncio & som.

[3] Mestre do comedimento na construção de linhas (muitas vezes dá a impressão que ele está editando seus solos enquanto os executa).

[4] Clichê é coisa rara nos solos de Miles e sutileza é marca registrada.

Não é sem razão que ele influenciou trompetistas como Clifford Brown, Chet Baker, Shorty Rogers, Jack Sheldon, Nat Adderley, Charles Moore, Johnny Coles, Eddie Henderson, Stu Williamson, Ted Curson, Luis Gasca, Blue Mitchel, Lester Bowie, Tom Harrell, Randy Brecker, John McNeil, Terumasa Hino, Kenny Wheeler, Wynton Marsalis, Terence Blanchard e Herb Pomeroy.

Sendo eu um trompetista, não me atenho ao Miles bandleader, compositor, criador dos maiores movimentos jazzísticos ou ao fato de ser o músico mais sortudo do universo, tocando com TODOS os grandes músicos de Jazz de sua época. Mas, seria ousado demais tocar na música no papa do Jazz sem lavar as mãos?

Miles Como Músico Comercial

Como sabemos, ao lado da busca pela excelência musical por parte de Miles, estava sua voraz perseguição pelo sucesso comercial - e muitas vezes essa sobrepujou aquela.

O Be-Bop teve seu auge de popularidade na década de 40, época em que Miles bebia nas fontes de Bird e Dizzy. Muitos negros na década de 50, entretanto, começaram ceder à indulgência de uma música mais simples, o Rhythm & Blues, deixando ao Be-Bop uma legião de brancos, muitos dos tais sem compromisso de lealdade ao Jazz para serem considerados "nicho de mercado". Miles quase acabou a carreira nessa época.

Terá sido essa a razão que o levou a inovar, juntamente com Gil Evans, inventando o Cool com Kind of Blue - (1959), um fuzuê entre os brancos?

Como alternativa ao Cool, que ficou mais branco que nunca com o West Coast Jazz de Chet Baker e Dave Brubeck, os negros se simpatizam mais com o East Coast jazz, o Hard-Bop - e lá estava Miles em ambos os lados da bipolaridade.

A década de 60 trouxe mais mudanças. Indo além da New Thing, um movimento encabeçado por Coleman, Coltrane e Taylor explorava politonalidade e atonalidade, tempos estranhos e abolição da métrica. Miles primeiro criticou e depois trilhou um caminho próximo com Carter, Hancock, Shorter e Williams.

Aí o Rock começa a ofuscar o Jazz e Miles pende para onde as coisas estão acontecendo (Hendrix e Sly Stone) e lança um álbum Jazz Rock-Fusion, Bitches Brew - 1969.

Quando na década de 70 houve a explosão do Heavy Metal, tio Miles ficou de fora. Estava ocupado com um projeto contraproducente: colocar ritmos de discoteca e funk nos seus discos. Quem já ouviu Dark Magus, Agharta e Pangaea?

Nos anos 80 ele aparece novamente. Toca para massas, tem ares de estrela consciente. Toca para jovens negros, misturando R&B com Hip-Hop. Tutu e Amandla, 1986 e 1989. Ali está o gênio Miles Davis desperdiçando seus dons melódicos com frases curtas cobertas pelo açúcar de confeiteiro de estúdio. Encerra a década com o Doo-Bop. Lançado em 1991, em dueto com o rapper Easy Mo Bee, o Doo Bop é um híbrido de Jazz e Hip Hop, no sendo bem um, nem outro.

Não pretendo desmistificar e personificação de um mito. Gênio? sim! mas com uma carreira tortuosa. De qualquer sorte, "Não se pode culpar um homem por no caminhar em linha reta num campo minado".

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segunda-feira, maio 05, 2008


4x5=12

No capítulo dois de Alice no País das Maravilhas (Alice in Wonderland, livro mais famoso de Lewis Carroll. Narra o sonho de uma menina) há um texto curioso. Alice começa umas contas muito estranhas!

"Let me see: four times five is twelve, and four times six is thirteen, and four times seven is -- oh dear! I shall never get to twenty at that rate!"

Com meus perdões pela tradução livre:

"Vejamos: Quatro vezes cinco é doze; quatro vezes seis, treze. Quatro vezes sete... que coisa! Nunca chegarei a vinte desse jeito!"

Qualquer um pode apontar o erro de Alice, certo? Somos mesmo assim - julgamos rápido. Quase nunca damos chance ao nosso interlocutor. Se o que ouvimos "não é mesmo o velho", descartamos. Formamos cedo nossos paradigmas e é difícil nos demover das idéias estabelecidas há muito. Em geral somos misericordiosos conosco e implacáveis com os outros. Mas será que Alice não poderá ter razão?

E se Alice está usando uma base não decimal, nosso sistema matemático comum? Computadores, por exemplo usam a base binária (0 ou 1). Não se preocupe se não sabe de que se trata - Há 10 tipos de pessoas no mundo, a que entende a base binária e a que não entende.

Na verdade na base 18, 4x5=12. 4x6=13 se usarmos a base 21.

Veja o padrão:


4x5=12 (base 18)
4x6=13 (base 21)
4x7=14 (base 24)
4x8=15 (base 27)
4x9=16 (base 30)
4x10=17 (base 33)
4x11=18 (base 36)
4x12=19 (base 39)

Diga você: Quanto é 4x13 na base 41? Não se precipite. Quem respondeu 20, errou! Veja que Alice falou que nunca chegaria a vinte com essa razão. E é verdade!

Ouvir e pensar um pouco mais antes de julgar quem quer que seja. Maravilha!
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sábado, maio 03, 2008




Cidade/City/Cité

Na nossa urbe, um emaranhado de elementos tocam nossos sentidos. Eles compõem a paisagem urbana nos unindo onde quer que estejamos numa experiência semelhante. Quais são esses elementos? Em uma palavra:


atro cadu capa causti dupli elasti feli fero fuga histori loqua lubri mendi multipli organi periodi plasti publi rapa recipro rusti saga simpli tena velo vera viva uni voracidade


cidade... city... cité...

Poesia de Augusto de Campos (1963), composta de uma palavra, escrita simultaneamente em português, inglês e francês, iniciada com a 'atro' e termidada por 'cidade'... 'city'... 'cité'.
Ouça.
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