quarta-feira, maio 14, 2008

Não Verás País Nenhum



Li a coluna de Clóvis Rossi na Folha de São Paulo ontem (13/05/2008). Trata de uma hipótese que, segundo ele, “passa pela cabeça faz tempo”. Os engarrafamentos em São Paulo vão chegar a um ponto que, uma vez dentro deles, não se sai nunca mais. A arquiteta Regina Maria Prosperi Meyer na Revista da Folha de domingo, chama o tal congestionamento final de ‘tudo-parado-para-sempre’.

Não foi surpresa para mim. Tenho lido os oráculos paulistas. Quem mais precisamente falou sobre isso foi Ignácio de Loyola Brandão. Rossi chamou o evento funesto de The Big One, uma alusão ao grande terremoto que os americanos aguardam devido a falha geológica na Califórnia. Loyola não precisou de empréstimos. Ele o chamou de O Notável Congestionamento. Está tudo lá no seu livro publicado na década de 80, Não Verás País Nenhum. Por mim canonizaria Loyola. Ele é o nosso Nostradamus.

Nos lembraremos das ruas coalhadas de carros buzinando e acelerando. São mais de 3,5 milhões hoje em São Paulo. A gasolina, o álcool, o diesel acabam e os donos ficam ali parados por dias com os rostos patéticos e expressões perplexas. Os mais céticos não acreditarão ao ver o noticiário e vão sair de casa mesmo assim. Não vai dar para tirar os carros. Fecham as ruas.
Gente pedindo para usar o banheiro da casa em frente ao ponto onde seu carro parou. Muitos ficam chorando sobre o capô, como que sobre o caixão de um parente. Os vendedores alvoroçados vendendo balas, chicletes, Valium e Rivotril. Muitos não arredam o pé por dias! Suponho que isso se dê entre a Segunda e a Quarta. Vai fazer um calor medonho – pesquisas mostram que da década de 40 para cá aumentou 2 graus Celsius em São Paulo. O calor que o número de carros emite é 1/10 do calor que se recebe do sol – vai chover no final das tarde desses três dias. Mormaço neles.

Visitaremos São Paulo para ver, serpeando pelas ruas fantasmagóricas, aquela Anaconda-de-carros defunta. Será o novo museu jurássico. Já dá para sentir o cheiro acre de metal enferrujado. Sem-teto hospedado em Kombi e ônibus. Piqueniques entre Corcéis e Eco Sports.

O recorde hoje em São Paulo é 266 quilômetros. Na minha décima primeira edição de Não Verás País Nenhum (1985), na página 118, ele fala em congestionamento de 200 quilômetros. Em uma outra que fica perto da cabeceira da minha cama, vigésima quarta edição (2001), na página 125 lemos “Tem 500 quilômetros de carros”. Que é isso? O congestionamento está aumentando também no livro!

.
.

6 comentários:

Fernando Gomes disse...

É meio monstruosa essa questão do engrarrafamento. Deve ser a coisa mais chata do mundo..

Comenta lá:
And I Said Goddamn!

M. disse...

"Chegará o dia em que haverá engarrafamento de metrô. Neste dia, a humanidade sucumbirá".

Romanos 14:04

Carla M. disse...

por isso que eu digo, melhro guardar um "pouco" mais de $$$ e comprar um helicóptero mesmo...

e aliás, São Paulo é impraticável hoje... no futuro, será impossível.

Paulo disse...

Alguns anos atrás, num dia de tempestade aqui em sampa, eu levei 4 horas para percorrer 12 quilômetros, no trajeto Tatuapé-Centro de Convenções Rebouças. Foi uma das maiores torturas que eu já sofri. Atualmente, eu levaria cerca de duas horas de carro até o meu escritório. De metrô, levo pouco mais de uma hora. Nem precisa falar que troco fácil o conforto do carro por um metrô apertado, mas pelo menos ganho uma horinha a mais pra fazer algo de bom!! O trânsito paulistano é caótico, não consigo ver soluções pra isso...


abraço!

Anônimo disse...

Falta pouco para as capitais pararem de vez...
Eu como prefiro o trem estou livre dessa...
Será???

Isaac Akira disse...

eh! Chegamos a 295 km...