sábado, junho 21, 2008

Ser ou não ter?

Os ingleses têm Shakespeare, os franceses, Montaigne, os alemães, Nietzsche, os italianos, Leopardi. O que temos? Machado? O foco não é gostar ou não gostar. É ter! Como fazê-lo ícone máximo da literatura nacional? Será ele realmente nosso? - vide "Influências Inglesas em Machado de Assis" de Eugênio Gomes, livro de 1939. Influência estrangeira não coloca em xeque seu ESTILO como produto nacional para deleite dos ufanistas? Resta perguntar: suas idéias estão estritamente ligadas à língua portuguesa, ou seja, vale como critério sua HABILIDADE NA EXPLORAÇÃO DO VOCÁBULO? Nesse ponto está tão aquém de Guimarães Rosa que cessa toda tentativa de comparação.


Comentário que fiz do DigestivoCultural.Com
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sexta-feira, junho 20, 2008


Gallus Domesticus

Fiquei fora alguns dias. Olhei para dentro, gastei tempo escarafunchando lembranças antigas de quando eu era apenas um franganote.

Ocorreu-me Dona Tonha Feiticeira, aquela que morava, como eu, próximo à feirinha, perto da alfaiataria do meu avô. Na frente da sua casa estacionavam os galinhoteiros, os quais ela tentava expulsar amiúde com perdigotos e esguichos d’água de mangueira. Dias de algazarra e banho. Na grade verde e baixa do jardim da sua casa, meu segundo irmão, ainda frangote, foi derrubado de testa e ganhou seu primeiro grande galo.

Dona Tonha Feiticeira é da época que existiam galinhas. Hoje todos esses seres são chamados de frangos. Lá ia eu, seguindo-a casa adentro. Ela vestida como cigana: babados e cordões, pingentes e dentes dourados. Eu segurando uma galinha viva pelos pés conduzindo-a entre imagens, signos de Salomão e carrancas. A
carijó sabia de turmas inteiras que se transformara em passarinhos ou tulipas. Desde pintinho cria que poderia se tornar crispy chicken, Korean fried chicken, fricassê. Caipira, veio para cidade exatamente para ser imolada e se transformar no cozido com batatas do dia. Voltava da casa da Dona Tonha Feiticeira com a cabeça debaixo da asa.

Foi aí que aprendi o ofício a que era solicitado ao menos uma vez por semana por minha mãe: um pé prendia duas asas no chão. O outro, os pés
de galinha. Mão esquerda agarrava a cabeça com força. Arrancava penas do pescoço. Batia a faca e depois, com o fio, sangrava a danada esperando sua morte.

Fiquei introspectivo alguns dias. Olhei para fora e não perdi tempo. Aqui vou - entre o ovo e o vôo - tentando atravessar a rua para o lado ensolarado da calçada.
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terça-feira, junho 10, 2008

Metablogorréia

Três tarefas concluídas determinam uma vida plena, segundo reza o clichê: plantar uma árvore, escrever um livro e ter um filho. Não estou ainda certo disso, mas escrever em um blog poderia substituir temporariamente uma ou duas dessas realizações. Há quem diga com dedo em riste: todas três! Em seus blogs plantam a semente, disseminam idéias e depositam seu sêmen.

Visito algumas árvores por aí. Não há tronco forte o suficiente para construir uma árvore. Folheei algumas páginas. Não há muito que impressione. Os filhos da maioria dos blogueiros são tão feios quanto eles.
Antes que um dos meus três leitores me olhem enviesados, adianto: Não me excluo completamente.

Escrever é laço! Não raramente armo ciladas para mim mesmo e, provavelmente, caio nelas; nem sempre concluo se sou eu quem me olha assustado do alçapão. Não me reconheço. É fácil se embaraçar com bagatelas, cair em pieguice, enredar na superficialidade. Cada post que escrevo, que brota, que nasce, me acusa da sua, da minha, feiúra. Afinal, o que estamos fazendo aqui? Não seria mais cômodo esconder a ignorância atrás das cortinas misteriosas do silêncio?
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sexta-feira, junho 06, 2008

Ave Google!


O Google é o oráculo da internet. Se houvesse uma sucursal do Google aqui em minha pequena cidade, eu iria todos os domingos à noite depositar minhas oferendas. É o Google que responde nossas rezas. É ao Google que fazemos nossas confissões. Quem nunca desejou saber o que se passa num confessionário? Que palavras são ditas pelos que se prostram no genuflexório e escancaram seus pecados ao sacerdote? Eles são proibidos de falar, mas o Google não tem esse compromisso de silêncio. Ele publica todo mês as palavras ditas ao seu pé do ouvido pelos internautas mundo afora.

A idéia é interessante. Esse espaço no Google é chamado de Zeitgeist, um substantivo alemão com aquelas pronúncias típicas 'tsIt-"gIst, 'zIt. Zeitgeist é formado de Zeit, tempo, e Geist, espírito (lembra ghost, não?). O significado é “o clima intelectual, moral e cultural de uma era”. Vejamos como andou o clima moral e cultural dos brasileiros em Abril, por exemplo.

<!--[if !supportEmptyParas]--> <!--[endif]-->

1. Jorge Vercilo 2. Lívia Andrade 3. Carlos Chagas 4. Pitágoras 5. Pushing Daisies 6. Itachi Uchiha 7. Power Ranger 8. Asa de Águia 9. Afrodite 10. Lei Maria da Penha 11. Jensen Ackles 12. Yu Gi Oh 13. Daniel Radcliffe 14. Mães 15. Van Helsing.


Temos pelo menos quatro mulheres na lista. Quem é Lívia Andrade ali no segundo lugar? O oráculo responde! A malandrinha que saiu em pêlo na Playboy. Ela está disparada se comparada a nono lugar dado Afrodite, deusa grega da beleza e do amor. O termo “afrodisíaco” vem daí. É ela que os romanos chamam de Vênus. Ela é mãe de Hermafrodito, cujo pai é Hermes. O termo “hermafrodita” vem daí. Também é mãe de Eros. O termo “erótico” vem daí. Depois, na décima colocação, humildemente, Maria da Penha. A Lei nº 11.340/06 que reza sobre a punição para os que praticam violência contra a mulher recebe esse nome em sua homenagem. Em penúltimo na bula de Abril do Papa Google, a palavra mães (Maio foi mês das mães). Provavelmente todos nós viemos daí.

Lembrando a ordem? Malandrinha, Afrodite, Maria da Penha e Mamãe. Esse é o clima intelectual, moral e cultural da nossa era. Não há decepção. Temos um lenitivo no quesito “intelectual”: Pitágoras veio antes do Power Ranger. ao quadrado menos quatro a .

Fonte dos dados.
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quarta-feira, junho 04, 2008

Idéia Vaga

A idéia é filha da criatividade com a inteligência. É concebida na mente, e o pensamento é seu nascedouro. Bem cedo, brinca no berço das fábulas e fantasias e passa a infância na imaginação. Mora no cérebro, mas se cria em Reflexão. Passa a adolescência em Delírio Cresce na abstração. A idéia vaga em Devaneio e antes que se perca em Conjecturas, volta à Memória. Vira noites em Invenção. Fixa-se de vez no ponto de vista. Matuta. Compreende conceitos. Estuda suposições e amadurece. Gradua-se na faculdade da perspicácia. Mais tarde, apaixona-se por Desvairo e esquece do Juízo. Pratica meditação como religião; assimila a doutrina com sagacidade. Cogita, maquina e envelhece - aniversário de idéia é lembrança e aposentadoria, recordação -. Adoece por fim no esquecimento e morre na ponta da língua.

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terça-feira, junho 03, 2008

Decifra-me

Dois garotos sapecas começam uma competição à distância. Num canto do ringue global, o desafiante: coronel do exército alemão, que como quase todos coleguinhas, se chama Fritz (1891–1967). Do outro lado o desafiado: Painvain, o tenente francês. O cenário é a Primeira Guerra Mundial.

Fritz está preparado. Bolou alguns meses antes, um código que acreditava indecifrável - sua arma secreta. Painvain por sua vez, sendo treinado desde cedo a não gastar tempo com atividades supérfluas como banho, acredita que sua dor não será em vão!

Uma mensagem foi interceptada em Código Morse:


XGVVDDDXDXXXDVVDXDDGDGDVVFGGFDDVDVA
DXDVVGDDGDDDVDVGDVGDDDAVDVFAVAVDAVD



E uma senha: BLOG

A data é 2 de junho de 1918. Exatamente 90 anos atrás. Depois de perder 15 quilos pensando, ele finalmente conseguiu. Trata-se do código ADFGVX. A letra a, por exemplo, é definida por suas coordenadas horizontal e vertical (nessa ordem) no políbio 6x6 abaixo, DV. O primeiro passo de Fritz foi, portanto, ocultar a mensagem usando a tabela.
abdalan blogspot ficaria

dvffa gdvda dvaxf fdadg gvvda ddgdd


O passo dois foi escolher uma SENHA sem letras repetidas - usemos "FELIZ" - e espalhar o código encontrado em LINHAS


F

E

L

I

Z

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v

f

f

a

g

d

v

d

a

d

v

a

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f

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g

g

v

v

d

a

d

d

g

d

d

No passo três organizou as COLUNAS com as letras da senha, arranjadas em ordem alfabética – "FELIZ" se torna "EFILZ".



E

F

I

L

Z

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f

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f

d

a

g

v

g

d

v

a

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d

d

g

d


Finalmente as COLUNAS são espalhadas em uma única linha

VDVD VDDG DFGD FDXD DDFV AAVG AAFG AD

É tudo verdade, exceto a frase encriptada por mim com a senha BLOG.

O código ADFGVX se tornou famoso na história criptográfica. Os franceses descobriram onde os alemães atacariam e impediram a ofensiva. O exército alemão já se encontrava a 100 km de Paris. Painvain (1886–1980) conseguiu decifrar a primeira mensagem logo cedo em 2 de Junho de 1918.

Saudações encriptadas.

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domingo, junho 01, 2008

Questão de Lógica

Eu, Abdalan, declaro a premissa:
Todos os homens são mentirosos.
Argumento [1]: A premissa é mentira
Conclusão: Todos os homens são verdadeiros.
Argumento [2]: A premissa é verdadeira, logo a afirmação dada por mim, Abdalan, é mentira.
Conclusão: Todos os homens são verdadeiros.

Post Scriptum Visitante homem? Me deve um chopp!
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