segunda-feira, outubro 29, 2007



Mahleria! Kyrie eleison

Revelação do irmão Thiago Lacerda:

Confesse os seus pecados para fugir da condenação que segundo ele será em um "ambiente soturno onde os condenados são obrigados a ouvir Richard Wagner por toda a eternidade — menos por força de sentença que por determinação estilística."

Os que confessam e deixam irão ao paraíso onde "estão as almas beatificadas pela música de Bach, Brahms e Beethoven, pois Deus assim o quis, amém."

Como um bom sacerdote, começo com a minha confissão:

I - Embora tenha gasto os minguados caraminguás do 13º salário na coleção Bernstein - Mahler - Complete Symphonies & Orchestral Songs (DG), reservei por AVAREZA Mahler 10 Symphonien -Abbado (DG). Kyrie eleison.

II - Já pratiquei a GULA de ouvir a Sinfonia 1 de Mahler 4 vezes no mesmo dia: por Bernstein, Solti, Mehta e Abbado. Um festim pantagruélico. Kyrie eleison.

III -Não, não, me recuso a falar do III; comportamento desregrado com relação aos prazeres do sexo; lascívia, concupiscência ao ouvir a quarta do ciclo, "Die zwei blauen Augen von meinem Schatz"*. Kyrie eleison.

"Unter dem Lindenbaum, der hat Seine Blüten über mich geschneit, Da wußt' ich nicht, wie das Leben tut, War alles, alles wieder gut!(...)"**

IV - Fiz uma análise da Primeira para minha esposa e fiquei com IRA quando ela fez cara de "não estou entendendo". Kyrie eleison.

V - Creio que Mahler é um profeta e procuro converter prosélitos para minha religião pagã por simples VAIDADE. Kyrie eleison.

VI - Me peguei cantando junto, no concerto, ainda que baixinho, a letra de "Das Lied von der Erde". Pura INVEJA. Kyrie eleison.

VII - Tenho PREGUIÇA de substituir os CDr de MP3 com as obras de Mahler que estão nas 153 caixas da coleção Bach 2000 - Teldec pelos discos orginais que estão em cima do guarda roupa. Kyrie eleison.

* Os olhos azuis da minha amada
** "Sob a tília que nevava suas flores sobre mim - sem saber como a vida prosseguia, Tudo estava bem novamente!(...)"

Abdalan da época do Mahleria
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Mãe, estou no Coral Polifônico Improvisado

A melhor maneira de aprender algo é no contexto de outra disciplina. Estava imaginando como os hominídeos foram impelidos para se expressar verbalmente, e começaram suas vocalizações para originar a fonte de todas as línguas atuais.

Imagine-se um bebê faminto na pré-história. É fácil advinhar os sons que, sem abrir boca, produziria para chamar a atenção da sua mãe: rhumm!. Talvez se a fome virasse raiva: RRHUMMM!

Todas as línguas compartilham certos fonemas em comum. Essas unidades comuns em todas as línguas derivam na estrutura fisiológica da nossa boca, nariz e garganta. Abrindo a boca e vocalizando, por exemplo, a vogal a é naturalmente produzida. Todo ser humano normal de qualquer língua pode dizer aaa. Quando o bebê faminto que imaginamos acima abrisse a boca para receber o leite da mãe: rhmm...aaa. MA!. É isso? MA. Seria MA a primeira sílaba vocalizada e MÃE a primeira palavra pronunciada pelo homem?

Uma coisa é certa, a maioria das línguas hoje possuem uma palavra para mãe que inclui a sílaba que também aparece no português, ma.

Inglês: mother, mom
Espanhol: madre, mamá
Línguas romanas: mater, madre
Húngaro: anya, mama
Letoniano: mamma, mâte
Alemão: mutter, mutti, mama
Noruguês: mor, mamma
Russo: mama

Lituano: motina; moèiute, motinëlë
Estoniano: ema
Francês: mere
Grego: mitera

wooops... espere!Veja uma lista mais completa aqui

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http://www.word2word.com/howto/motherad.html]

Bem, estabelecida a atmosfera de outra "disciplina", a linguística, voltemos ao ponto:

A fala deu origem à música (como baiano, sou autoridade máxima nesse assunto maaainhaa!). Se a fala e a língua teve uma monogênese, por que não considerar assim também com respeito à música? (Em tempo e de passagem: monogenese da língua, ponto pacífico entre os lingüistas.)

Todas as crianças do mundo provocam as outras com certo padrão musical especial:
LA la LA la [descendo e subindo (nessa ordem!) uma terça menor (um tom e meio) com figuras de semínimas (notas de um tempo)].
Há as variações sobre o tema:
LA la LA la VOCÊ É muLHERZInha [adicionado colcheias (notas de meio tempo) e uma nota um pouco mais aguda no "LHER" de muLHERZInha].

Por que é assim?

Sendo a música universal, os padrões do tal coral polifônico improvisado não são tão frouxos como alguém pode pensar. A natureza humana ditará o tom.

Abdalan em 2004. Divagações
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Coral Polifônico Improvisado

"Uma idéia bacana, proposta por Pierre Lévy há mais de 10 anos, é a do Coral Polifônico Improvisado, ou seja, a inteligência coletiva seria como um maestro invisível, consensual, a orientar as diversas vozes durante os "debates públicos". Este é o tom."
Proposta de discussão de Nê Bardi, um amigo. A seguir, minha resposta.

Jazz

Não conheço a proposta do francês Levy, mas esse tipo de interatividade acontece constantemente na música instrumental - notadamente no Jazz - por razões que acredito serem menos enigmáticas que a propositura da Inteligência Coletiva - embora tanto inteligência quanto senso de coletividade sejam aplicados no processo.

Imagine a criação espontânea de um artista que faz suas pinturas na presença do público. Isso pode ser possível, claro. Que tal agora pintar enquanto a própria tela sobra a qual a figura é desenhada é manufaturada, e as tintas, fabricadas? Coisa análoga acontece no Jazz!

Podemos colher recompensas intelectuais ao ouvir uma música como essa. A coordenação dos eventos, as consciências rítmicas, harmônicas e melódicas se mesclam com a cortesia mútua dos músicos. Quanto mais atentos, mais nuanças são percebidas.

Bem, sinto dizer-lhes que isso não se vê facilmente hoje em dia.

Embora não seja adepto de "o rock está morto", vejo que, no mínimo, enquanto a música boa se debate (ambigüidade intencional) o músico estrebucha para sobreviver. Artistas liquidados em sua possibilidade de propor novas visões e experiências aos seus contemporâneos são, simultaneamente, crias e presas do neoliberalismo. As exigências do meio colocam o músico ante a eleição do livre arbítrio e o compromisso comercial e mercantil.

O que se chama produção artística é resultante de estudo de mercado e impacto público, sem atentar no exame ético ou estético das propostas.

Para engrossar o caldo da discussão e torná-la mais inclusiva, podemos falar também sobre o seguinte.

Música é mercadoria? São os milhares de consumidores que elegem uma obra de arte boa ou má? O mercado regula a vida artística nos dias atuais? O que é música boa?

Que tal?

Abdalan em Novembro de 2004


Vencer a Discussão

O que é vencer? Bem, quando entramos numa discussão corremos algum risco. Erros de raciocínio podem ser desvendados, poderemos ter que eliminar ou alterar nosso sistema de crença, considerar algo novo; isso é psicologicamente perturbador. Porém, se nossas idéias e argumentos passam pelo crivo do nosso interlocutor e é aceito depois de apreciação meticulosa, fomos claramente vitoriosos, afinal o que somos senão essas idéias que colocamos diariamente sob teste?

Mas há quem não se interesse em vencer a discussão. Acha isso muito chato.

Será que vencer é mesmo chatice? Vaidade intelectual? E se os argumentos que são fornecidos são para sustentar, para uma garota, a idéia que, por exemplo, você é a melhor companhia para aquela noite? Ou que seu produto é melhor que o do concorrente? Ou que você é mais adequado para o cargo de chefia? Ou... Não seria a vitória compensadora?

Aristóteles, que diz que retórica é a faculdade ou habilidade que descobre os meios de persuasão em determinado caso. Descobrir quais são os recursos que podemos lançar mão para fazer afirmações que influenciem outras pessoas pelo processo racional pode ser desprezado.

Embora considere que o arrazoamento formal (discurso em defesa de uma causa) seja insuficiente para sustentar de maneira prática, argumentos, - pelo fato de não adicionar nada ao nosso repositório de conhecimento {meramente rearranja o que já sabemos [A=B, B=C, logo A=C (A, B e C são conhecidos)]} - creio que deva haver, um atalho pelo qual podemos aplicar variações desses silogismos para que os argumentos prevaleçam eficazmente em variadas situações. Não me culpe por caçá-los. Não será possível ter uma visão clara dos fatores que desencadeiam o amor romântico, ou de outros que o fazem extinguir, ou ainda daqueles que o fazem perdurar para sempre? Se a resposta for positiva, o que nos impede de uma análise racional desses coeficientes? Nada impediu Platão ou Freud. Arrisco dizer que muito da nossa visão do amor é a mesma que os indígenas tinham de um eclipse, do trovão ou de outros fenômenos naturais: encantamento mágico! Consideramos impossível entendê-lo com química, biologia e psicologia. "Quem um dia irá dizer que não existe razão?"

Retoricarei, retoricarás, retoricarão.

I hate a fellow whom pride, or cowardice, or laziness drives into a corner, and who does nothing when he is there but sit and growl ; let him come out as I do, and bark. Samuel Johnson 1709-84: James Boswell Life of Johnson - 10 Outubro 1782

Um texto que enviei a um amigo numa época que queria ver razão em tudo.
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Nós Desatados

Por que me amarro neste cais?
Por que me escondo no porão?
Se o mar aberto é muito mais
E o céu aberto, imensidão

Nem sei...

Por que me amarro ao verbo ter?
Por que me escondo tanto assim
Nas aparências do poder
E me encolho dentro em mim?

Se o Unigênito de Deus
De Seu poder se esvaziou
Mas no barquinho para os Seus
O mar e o vento aquietou

Já sei!

A quem criou os céus e o mar
A quem seu próprio Filho deu
Meu coração vou entregar
Navegar, voar, ser Seu.

Letra de Wolô para uma canção de Abdalan em Outubro de 2007
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domingo, outubro 28, 2007



Pluft

Em questão de segundos a vida pode mudar de rumo;
Acredite que uma mísera palavra muda o sentido de uma frase inteira,
Um passo pode mudar o rumo da sua vida,
Um desejo pode se tornar realidade em um segundo;
Que uma amizade pode vir a se tornar amor,
Que o amor pode virar ódio,
Que uma lágrima pode mudar drasticamente o modo de como você vê o mundo,
Que um sorriso pode alegrar o dia de alguém que estava triste,
Que um desabafo pode te deixar pra cima,
Que uma demonstração de amor pode levantar qualquer um a hora que seja,
Que uma chuvinha pode fazer com que você se atrase e arruine todo um trabalho ou até te faça ficar mais tempo com aquela pessoa especial,
Que um dia de sol é o suficiente pra mudar todos os planos e dar uma voltinha com a família na praia,
Que uma noite estrelada pode fazer a diferença e transformar uma noite de rotina em um belo acampamento,
Ou que em apenas UM MOMENTO pode mudar uma vida inteira.

Recebi de uma amiga e contribuí com o título
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Ab Negação

Enverga o teu orgulho,
Renuncia proteção;
Fica em silêncio,
Não espera o perdão;
Vende tua alma,
Abdica o galardão.

Reconhece meu desdouro
Por ser baço teu olhar;
Pois todas minhas máculas
Tu acabas de criar;
Colhe muitos louros,
Que me deixo coroar.

Executa auto-análise,
Avalie-se sem dulçor;
Dê resposta branda,
Para desviar-me o furor;
Ofereça-me a outra face,
Como prova de amor.

Abdalan em 20 de Julho de 2006
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Átimo

Ah! A vida! Nos esconde sua efemeridade.
Silencia o bip da contagem regressiva;
A chama da vela desvia a atenção da cera que se consome;
Quando, de relance, olhamos para trás, quanto já se foi!
Quantos amigos, amores, ares e lugares!
Juventude fugidia!
Oh! Vida, por que, dissimulada, permite tratar-te como eterna e não raras vezes nos arriscar no desperdício?
Ah! A vida! Única, travestida da multiplicidade.
Caleidoscópio entorpecente.
Ajo como se mil de ti existisse e invisto essa primeira como um assalariado que recebeu adiantado seu primeiro soldo.
Oh! Vida, por que não assumes tua identidade e nos mostras que o fim é ainda mais próximo que o prazo decorrido?

Abdalan em 17 de Julho de 2006
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