quarta-feira, maio 07, 2008

Miles Como Trompetista

Não parece novidade considerar, exceto para quem não os ouviu, que Miles Davis (1926-1991) NÃO teve a estonteante proficiência instrumental de trompetistas como Dizzy, Clifford ou Maynard.
Em relação a esses citados, por exemplo:

[1] Ele não toca tão rápido, [2] Ele não tem a mesma extensão e [3] Ele não toca tão claro.

Além disso, muitas vezes ele "escroca" as notas ou erra o alvo da nota desejada; Não é raro ouvir ele se aventurar em passagens que são mais rápidas que suas habilidades permitiam executar.

Ouça novamente Miles in Europe, Miles in Berlin, Miles in Tokyo e Four and More

Isso não ofusca, evidentemente, os pontos positivos de Miles como trompetista

[1] Um solista melódico.

[2] Produz efeito máximo nas suas escolhas rítmicas e na dramática construção de figuras melódicas. Excelente dosagem de silêncio & som.

[3] Mestre do comedimento na construção de linhas (muitas vezes dá a impressão que ele está editando seus solos enquanto os executa).

[4] Clichê é coisa rara nos solos de Miles e sutileza é marca registrada.

Não é sem razão que ele influenciou trompetistas como Clifford Brown, Chet Baker, Shorty Rogers, Jack Sheldon, Nat Adderley, Charles Moore, Johnny Coles, Eddie Henderson, Stu Williamson, Ted Curson, Luis Gasca, Blue Mitchel, Lester Bowie, Tom Harrell, Randy Brecker, John McNeil, Terumasa Hino, Kenny Wheeler, Wynton Marsalis, Terence Blanchard e Herb Pomeroy.

Sendo eu um trompetista, não me atenho ao Miles bandleader, compositor, criador dos maiores movimentos jazzísticos ou ao fato de ser o músico mais sortudo do universo, tocando com TODOS os grandes músicos de Jazz de sua época. Mas, seria ousado demais tocar na música no papa do Jazz sem lavar as mãos?

Miles Como Músico Comercial

Como sabemos, ao lado da busca pela excelência musical por parte de Miles, estava sua voraz perseguição pelo sucesso comercial - e muitas vezes essa sobrepujou aquela.

O Be-Bop teve seu auge de popularidade na década de 40, época em que Miles bebia nas fontes de Bird e Dizzy. Muitos negros na década de 50, entretanto, começaram ceder à indulgência de uma música mais simples, o Rhythm & Blues, deixando ao Be-Bop uma legião de brancos, muitos dos tais sem compromisso de lealdade ao Jazz para serem considerados "nicho de mercado". Miles quase acabou a carreira nessa época.

Terá sido essa a razão que o levou a inovar, juntamente com Gil Evans, inventando o Cool com Kind of Blue - (1959), um fuzuê entre os brancos?

Como alternativa ao Cool, que ficou mais branco que nunca com o West Coast Jazz de Chet Baker e Dave Brubeck, os negros se simpatizam mais com o East Coast jazz, o Hard-Bop - e lá estava Miles em ambos os lados da bipolaridade.

A década de 60 trouxe mais mudanças. Indo além da New Thing, um movimento encabeçado por Coleman, Coltrane e Taylor explorava politonalidade e atonalidade, tempos estranhos e abolição da métrica. Miles primeiro criticou e depois trilhou um caminho próximo com Carter, Hancock, Shorter e Williams.

Aí o Rock começa a ofuscar o Jazz e Miles pende para onde as coisas estão acontecendo (Hendrix e Sly Stone) e lança um álbum Jazz Rock-Fusion, Bitches Brew - 1969.

Quando na década de 70 houve a explosão do Heavy Metal, tio Miles ficou de fora. Estava ocupado com um projeto contraproducente: colocar ritmos de discoteca e funk nos seus discos. Quem já ouviu Dark Magus, Agharta e Pangaea?

Nos anos 80 ele aparece novamente. Toca para massas, tem ares de estrela consciente. Toca para jovens negros, misturando R&B com Hip-Hop. Tutu e Amandla, 1986 e 1989. Ali está o gênio Miles Davis desperdiçando seus dons melódicos com frases curtas cobertas pelo açúcar de confeiteiro de estúdio. Encerra a década com o Doo-Bop. Lançado em 1991, em dueto com o rapper Easy Mo Bee, o Doo Bop é um híbrido de Jazz e Hip Hop, no sendo bem um, nem outro.

Não pretendo desmistificar e personificação de um mito. Gênio? sim! mas com uma carreira tortuosa. De qualquer sorte, "Não se pode culpar um homem por no caminhar em linha reta num campo minado".

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6 comentários:

danii disse...

vou procurar as músicas e conferiri o som....
bjks

www.daniilopes.blogspot.com

Tammy disse...

Obrigada pela sugest�o!

Tirei um trecho de um famoso conto de Chaplin!


http://minha-nossa.blogspot.com/

Anônimo disse...

Não entendo muito de música, por isso nem darei palpite sobre seu texto.
Vim só para agradecer as críticas e prestar alguns esclarecimentos.

Considero importante votar no mesmo partido uma vez que devemos guiar nosso voto pelo ideal político e não pelo carisma e eloqüência dos candidatos. Não tem sentido votar para presidente em um partido neo-liberal e para senador em um partido socialista ou comunista, não tem lógica nenhuma.

O tempo em si não é fundamental o importante é o que fazemos com ele. Em uma sociedade corrida e concorrida como a nossa o tempo livre é muito escasso e dedicar esse tempo a estudo político chega a ser um sacrifício.

Sobre meu português nem questiono, ele é ruim mesmo, estou estudando, mas esse processo é lento.

obrigado pelas críticas
abraços

Cinéfilo disse...

Já ouvi de tudo: que Miles não tem a extensão, o alcance sonoro de um Dizzy. E daí? Já ouvi que Miles é um grande agregador de talentos, grande descobridor de músicos. Sim, e daí?
Isso não faz dele um grande trompetista. O que faz dele um dos gênios da música é sua sonoridade, seu suíngue (quando necessário), sua música avant-garde (quando foi preciso), sua inacreditável capacidade de confundir o ouvinte quando este não sabia o que valia mais, numa composição: se harmonia ou melodia. Seus petardos sonoros, suas quebras de ritmo.

O que se pode dizer de um cara que disse o que COLTRANE tinha a fazer? "Kind of Blue" é um disco revolucionário, assim como são "Bitches Brew" e "Jack Johnson" (há quem diga que ele roubou músicas do Hermeto). Esse é um ponto que vc abordou e que não pode, sob hipótese alguma, ser desprezado: Miles esteve à frente dos grandes movimentos do jazz (exceto o bebop, mas aí por uma questão temporal).
Sem ele o jazz seria mais pobre - o que, aliás, aconteceu.

Desses que vc citou, no início do texto, só reconheço como "melhor" que Miles Clifford Brown.
Nem Dizzy.
Assim que ouvi as gravações completas de Miles no Carnegie Hall (com Mobley subindo pelas paredes), percebi que só Clifford era superior.
Claro que é uma opinião e opiniões estão sujeitas a críticas - ainda bem.

Tenho o "Live Evil" e outras gravações fusion. Confesso que não me atraem muito. Aquele "Dark Magus" eu só ouvi uma vez.

Postei sobre Miles algumas vezes - inclusive sobre o livro do Ashley Khan. É só mandar "buscar" no blog que vc encontra.

Abraço, camarada.

Thiago Sva disse...

infelizmente sou totalmente leigo no assunto do post (até o momento) , li tdo mas nao entendi nada, porem é interessante e digamos que um novo caminho se abriu na minha mente, vou me arriscar a ouvir e conhecer um pouco mais.

abraços

Hɪαgð¦ disse...

A sugestão é Boa

(entra nO meu Blog e comenta flw)

Sòó Mais uma Coisinha pArtiCipa nA Enquete.