sábado, julho 05, 2008


Considerações de um Rabugento

Poblicado por mim no DigestivoCutural.Com

"...tu amas a narração direta e nutrida, o estilo regular e fluente, e este livro e o meu estilo são como os ébrios, guinam à direita e à esquerda, andam e param, resmungam, urram, gargalham, ameaçam o céu, escorregam, caem..."
Machado de Assis, no capítulo "O Senão Do Livro", de Memórias Póstumas de Brás Cubas

"Enquanto minha alma fazia estas reflexões, o outro ia indo por sua conta, e Deus sabe aonde ia!..."

Xavier de Maistre, em Viagem à roda do meu quarto



A destra tapa um bocejo enquanto a sinistra segura os comentários de Manuel Bandeira e Alfredo Bosi sobre Machado: "Nenhum escritor o sobrepuja na harmonia de todas as qualidades, que faz dele nosso clássico por excelência", "O ponto mais alto e mais equilibrado da prosa..." ― sempre achei os vendedores de enciclopédia geniais. Um perdigoto desequilibra e cai no caderno "Mais!" da Folha: 11 a 2 para Deus. Goleada! O embate não é novo. Machado já esteve no ringue com José de Alencar. Para não citar Tobias Barreto, esse outro pobre-diabo. Ouço Nessum Dorma e vou acordando com interrogações serpentinas: no jogo em que se disputa a posição de melhor escritor brasileiro, como se marca ponto? Quais as regras? Quem conta um conto aumenta um ponto? Quem pode ser juiz? O que se premia ao vencedor, rosas ou batatas?

O entusiasmo com que os jornais, revistas e leitores saúdam a recepção estrangeira a nossos autores não revela uma cultura literária em busca da legitimação ou apenas a tendência a genuflexão? "Woody Allen expressou sua admiração pelo autor de Dom Casmurro". Hip, hip hurra! Leu Epitaph for a Small Winner. Match point! Ora, o valor de Machado não caminha exatamente na contramão sendo ele mesmo antes leitor estrangeiro para então se tornar escritor nacional?

Machado mostra genialidade em alguns romances. Talvez três. Quatro? Certamente três. Até 1872 a obra de Machado de Assis era medíocre e de pobre conteúdo. Palavra do Senhor! A desconfiança e inquietação do autor estão reveladas no prefácio de Ressurreição (1872). Considera-se iniciante. Considera-lhe ensaio. Sua destra e sinistra seguram um coração que não sabe o que pensar da própria obra. Valendo-me de julgamento a posteriori dá para ser-lhe franco ― O romance é fraco, Machado; estilo e conteúdo desequilibrados. Faz bem em dar alguns passos para trás. Vade retro... Ei, Machado, espere! Pára! Não tanto! A Mão e a Luva (1874) e Helena (1876) saíram piores. Guiomar tem personalidade rasteira pincelada com traços trôpegos emoldurados em tela (ação) rota. Ponto sem nó. Há quem goste. Ai, ai. Iaiá. Os personagens desses dois livros são como personagens de novelas da tarde: vitoriosos embora sem trabalho, tendo futilidade como única ocupação. São imagem e semelhança das figuras típicas da época, como a luva é da mão.

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